Artes-marciais


Cruzar a Rua 25 de Março continuava, apesar dos pesares, sendo a forma mais rápida de chegar ao dojo, onde Breno praticava artes-marciais. 

Ainda criança, Breno teve a paixão pelas lutas despertada pelo pai, um agente da polícia civil de São Paulo. O garoto gostava de gabar-se de ter um pai policial, aos colegas de escola, mesmo que às vezes provocasse irritação, fato esse lhe dava enorme satisfação.

Uma vez por ano, o grêmio da corporação abria as portas ao público, oferecendo uma série de entretenimentos, dentre os quais a exibição de artes-marciais nipônicas. Judocas e caratecas faziam um show impressionante. Aos olhos do pequeno Breno, porém, só o pai brilhava. Não era adepto do judô, nem do caratê. Aquela arte-marcial não adaptava movimentos a estrutura do corpo, as suas limitações.  Reproduzia, de forma autêntica, movimentos de animais selvagens. Um estilo pouco conhecido, chamado “Os Dez Magníficos”. 

O nome não chegava a impressionar. Somente as testemunhas oculares podiam dizer o quão impressionante tratava-se. Sempre que via, Breno ficava pasmo; a graça com que o pai se movia, a flexibilidade, o súbito movimento capaz de enganar. Não parecia humano e sim um bicho, uma fera, movendo-se discretamente na selva.

Breno realizou o desejo de aprender artes-marciais ao fazer seu décimo aniversário. Foi matriculado no mesmíssimo dojo que o pai, e instruído pelo mesmíssimo mestre, a quem Breno tinha a honra incomensurável de poder chamá-lo de Sensei. 

O dojo ocupava um pequeno prédio de dois andares, exprimido entre um escritório de contabilidade e uma loja de roupas. A fachada fora pintada em cores vibrantes, mesclando elementos do Japão e Brasil como forma de expressar união entre os países. 

Um sol da raios vermelhos aparecia por detrás de um Monte Fuji pintado de verde amarelo, ao pé do qual um prado onde, em primeiro plano, via-se um par de dragões serpeantes, um leopardo, um lobo, um cão, uma carpa, uma vespa, um urso, um macaco e um milhafre. Os símbolos de “Os Dez Magníficos”.

Cada estilo levava um período fixo de dez anos de aprendizado e domínio pleno e apenas um estilo por aluno podia ser ensinado. Ano que vem, Breno faria seu vigésimo aniversário. Algo mais que o fechar de um ciclo era aguardado.




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